São Francisco e Santa Clara de Assis.

São Francisco e Santa Clara de Assis.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

CONDUTA E MENTALIDADE MUNDANAS DE FRANCISCO



PRIMEIRO LIVRO
Para louvor e glória de Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

CAPÍTULO 1


1.Vivia na cidade de Assis, na região do vale de Espoleto, um homem chamado Francisco . Desde os primeiros anos foi criado pelos pais no luxo desmedido e na vaidade do mundo. Imitou-lhes por muito tempo o triste procedimento e tornou-se ainda mais frívolo e vaidoso.
Por toda parte entre os que se diziam cristãos, difundiu-se esse péssimo costume, como se fosse lei, confirmada e preceituada por todos que procuram educar seus filhos desde o berço com muita moleza e dissolução. Apenas nascidas, antes de começarem a falar e a balbuciar, as crianças aprendem, por gestos e palavras, coisas vergonhosas e verdadeiramente abomináveis. Na idade de abandonarem o seio materno, são levadas não só a falar mas também a fazer coisas dissolutas e lascivas. São fracas demais, nesta idade, para ousarem comportar-se honestamente, pois isso as poderia expor a castigos severos. Bem disse o velho poeta: “Porque crescemos no meio das depravações de nossos pais, desde a infância acompanham-nos todos os males”.
Este testemunho é bem verdadeiro, pois quanto mais os desejos dos pais são prejudiciais às crianças, tanto mais elas se sentem felizes em lhes obedecer. E quando entram na adolescência, caem por si mesmas em práticas cada vez piores. Uma árvore de raízes más só pode ser má, e o que foi pervertido uma vez dificilmente poder ser endireitado. Quando chegam à adolescência, que poderão ser esses jovens? Então, no turbilhão de toda sorte de prazeres, sendo-lhes permitido fazer tudo o que lhes apraz, abandonam-se cegamente aos vícios. Assim, escravos voluntários do pecado, entregam seu corpo como instrumento do mal. Sem nada conservar da religiosidade cristã em sua vida e em seus costumes, defendem-se apenas com o nome de cristãos. Esses infelizes muitas vezes até fingem ter feito coisas piores do que de fato fizeram, para não passarem por mais vis na medida em que forem mais inocentes.


2. Nesses tristes princípios foi educado desde a infância o homem que hoje veneramos como santo, porque de fato é santo. Neles perdeu e consumiu miseravelmente o seu tempo quase até os vinte e cinco anos. Pior ainda: superou os jovens de sua idade nas frivolidades e se apresentava generosamente como um incitador para o mal e um rival em loucuras. Todos o admiravam e ele procurava sobrepujar aos outros no fausto da vanglória, nos jogos, nos passatempos, nas risadas e conversas fúteis, nas canções e nas roupas delicadas e flutuantes. Na verdade, era muito rico, mas não avarento, antes pródigo; não vido de dinheiro, mas gastador; negociante esperto, mas esbanjador insensato. Mas era também um homem que agia com humanidade, muito jeitoso e afável, embora para seu próprio mal. Principalmente por isso muitos o seguiam, gente que fazia o mal e incitava para o crime. Cercado por bandos de maus, adiantava-se altaneiro e magnânimo, caminhando pelas praças de Babilônia até que Deus o olhou do céu. Por causa de seu nome, afastou para longe dele o seu furor e pôs-lhe um freio à boca com o seu louvor, para que não perecesse de vez. Desde então esteve sobre ele a mão do Senhor e a destra do Altíssimo o transformou para que, por seu intermédio, fosse concedida aos pecadores a confiança na obtenção da graça e desse modo se tornasse um exemplo de conversão para Deus diante de todos.




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