São Francisco e Santa Clara de Assis.

São Francisco e Santa Clara de Assis.

domingo, 4 de outubro de 2015

PRANTO DAS SENHORAS EM SÃO DAMIÃO. LOUVOR E GLÓRIA DE SEU SEPULTAMENTO.

 Os frades seus filhos, que tinham acorrido com toda a multidão dos povos das cidades vizinhas, que estavam tão contentes por participar daquela solenidade, passaram toda aquela noite em que morreu o santo pai dando louvores a Deus, parecendo sentinelas dos anjos pela doçura do júbilo e pela claridade das luzes. Quando amanheceu, juntou-se a multidão de Assis com todo o clero e, carregando o sagrado corpo do lugar em que morrera, levaram-no para a cidade entre hinos e louvores, tocando trombetas. Tomaram ramos de oliveiras e de outras árvores e seguiram solenemente o enterro, com muitas luminárias e cantando louvores com voz sonora. Quando o cortejo, formado pelos filhos que levavam o pai e pelo rebanho que acompanhava o pastor em busca do Pastor supremo, chegou ao lugar em que ele tinha fundado a Ordem das santas virgens e senhoras pobres, depositaram-no na igreja de São Damião, em que moravam aquelas suas filhas, que tinham sido adquiridas pelo Senhor. Abriu-se então a janelinha pela qual as servas de Deus costumavam receber a comunhão no tempo determinado. Abriu-se também a arca em que o tesouro de virtudes supercelestes estava aguardado e em que estava sendo levado por poucos aquele que costumava levar muitos. Então a senhora Clara, que era clara de verdade pela santidade de seus merecimentos, primeira Mãe das outras, porque tinha sido a primeira plantinha dessa Ordem, chegou-se com as outras filhas para ver o pai, que agora já não lhes falava, nem haveria de voltar a ela porque estava a caminho de outras paragens.

Suspirando e gemendo muito, olhavam para ele em lágrimas e começaram a clamar com voz embargada: “Pai, pai, que vamos fazer? Pobres de nós, por que nos abandonas? Por que nos deixas assim desamparadas? Por que não nos mandaste alegres à tua frente para onde vais e nos deixaste sofrendo deste jeito? Que mandas que façamos, presas neste cárcere, pois nunca mais virás visitar-nos, como costumavas? Contigo vai-se embora toda nossa consolação. Não haverá mais conforto igual para nós que nos enterramos para o mundo! Quem nos acudirá em tamanha pobreza, não só de méritos como de coisas? Ó pai dos pobres e amigo da pobreza! Quem nos socorrerá nas tentações, diz-nos tu, que passaste por tantas e eras um precavido conhecedor desses males! Quem nos consolará nas tribulações, diz-nos tu, socorro nas tribulações que nos
assaltaram em demasia! Amarga separação e cruel ausência! Cruel morte, que trucidas milhares de filhos e filhas, privando-os de semelhante pai, apressando-te em levá-lo para longe sem retorno, ele a quem devemos o grande florescimento de nossos esforços, se é que alguma coisa temos!” Mas o seu virginal pudor as impedia de chorar mais e não ficava bem chorar demais por ele, quando em sua morte tinham acorrido tantos exércitos de anjos, alegrando-se os cidadãos dos céus e os que moram na casa de Deus. Entre a tristeza e a alegria, beijavam suas mãos irradiantes, com todo o fulgor de pérolas preciosas e faiscantes. Quando ele foi levado, fechou-se para elas a porta, que jamais poderá ser aberta para outra dor comparável. Que grande compaixão tiveram todos pelo sofrido e piedoso lamento dessas senhoras! Que grandes foram, principalmente, os gemidos de seus filhos entristecidos! Sua dor singular era comum a todos, sendo impossível para todos deixar de chorar quando os anjos da paz; choravam com amargura.


Quando todos chegaram à cidade, com grande alegria e júbilo colocaram seu corpo santíssimo no lugar sagrado, mais sagrado depois disso, em que, para glória de Deus todo-poderoso, ilumina o mundo pela multiplicação de novos milagres, como até então tinha ilustrado pela doutrina de sua santa pregação. Graças a Deus. Amém.

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